Quando recebi o convite para expor na galeria do Instituto Rouanet, nesta inesquecível cidade de Tiradentes, logo me propus a curar de próprio punho algo que me propusesse questionar o meu próprio trabalho sempre tão decantado na cor. Aqui, então, nesta minha curadoria, sem os adereços dos algodões ou esparadrapos, Walter Firmo revê Guimarães Silva, meu sobrenome de mãe e pai, lembrando que meu nome digamos assim – artístico – é conjugado.

Dos fracos e oprimidos talvez, jamais de uma classe onde predomina a supremacia dos poderosos que humilha e escraviza. Não fosse a fotografia com seu poder imagético, não sei como poderia falar exaltando em imagens esta confraria suburbana, operária, onde a negritude viceja diferente de um tostão furado.

É bem possível que, oriundo desse propalado submundo, queira exaltar e dignificar estes cidadãos tão religiosos quanto profanos, que acreditam em Deus e no diabo na terra do sol, requebrando nas festas populares, carregando sobre suas cabeças o poder da mente que não se abate sobre o corpo, traduzindo sua força indômita, que fundamenta e traduz sua personalidade simples.

Quem sabe, talvez, por pertencer a essa confraria, me exalto na sua tradução simples e direta, calcado no festim do preto-e-branco, enquadrando suas virtudes como legítima defesa, concordando com alguém que comentou que as forças das verdadeiras sociedades que fazem um País emanam do meio para o litoral. Não se fazem nações do litoral para o sertão, e sim do vice e versa.

Daí a sua grandeza, daí o seu caráter arrebatador que a tudo envolve, desde as suas danças, suas forças que regem seu destino, como disse aquele escritor no seu lendário livro, que “o sertanejo é antes de tudo um forte.” Forjado na dor sob o sol inclemente, vidas secas ainda é pouco como palco e berço de seu dia a dia.

Então, a cultura desse povo é algo inabalável. Indestrutível é sua missão em sustentar a forja, as franjas gloriosas de uma nação, por mais que imperiosas sejam suas contradições oriundas do analfabetismo, pai e mãe linear da estruturação cidadã, aquela que quando pode, deve lastrear uma sociedade saudável como dever político.